O meu exame de admissão ao liceu
Como é possível renegar toda a evolução que nestas sete décadas se verificou na orientação educativa? Para além do facto de, em vários dos países considerados mais avançados nesta área, se terem eliminado os exames formais ao longo de toda a escolaridade básica (escrevi no Facebook da Rede Inclusão um pequeno texto sobre isso referindo o que se passa na Finlândia), em Portugal vão buscar-se os exemplos da escola primária do tempo dos avós ou mesmo dos bisavós da maioria dos alunos que agora povoam as nossas escolas.
De regresso ao passado
Borda fora, irresponsavelmente, vão milhares de horas de formação de professores e o envolvimento de anos de um enorme conjunto de instituições. Borda fora, levianamente, vai o financiamento de uma acção que deu resultados, internacionalmente reconhecidos. Borda fora irão os manuais escolares, há pouco aprovados. E alunos e professores aguentarão mais um experimentalismo, pedagogicamente criminoso, decidido por um rematado incompetente.
Exames de 1.º ciclo e a “erecção da inteligência”
Dei-me, entretanto, à maçada de ler as 95 páginas, os três capítulos, os 63 itens, afora dezenas de alíneas e anexos da Norma 02/2013 do Júri Nacional de Exames (JNE). Uma paranoia que o Estado Novo não levou tão longe. Deduzo que esta gente não sabe o que anda a fazer. Só lendo! O texto, que engloba o 1º ciclo, resulta de uma abstrusa e retrógrada concepção do que deveria ser uma avaliação de base contínua.
A escola do meu tempo
Na escola do meu tempo não se falava do lado de fora de Portugal. Do lado de dentro só se falava do Portugal cinzento e pequenino. Na escola do meu tempo eu era avisado em casa para não falar de certas coisas na escola, era perigoso. As pessoas até podiam ser presas e maltratadas.
Sim, eu sei, não precisam de me dizer que a escola deste tempo ainda tem muitas coisas parecidas com a escola do meu tempo. Também estou muito preocupado com o que vai acontecendo na escola de hoje.
As saudades da antiga 4ª classe
A escola dos exames e dos rankins, a escola que Nuno Crato diz ser exigente, é a mais facilitista de todas as escolas. Massacra crianças com avaliações sucessivas. Não exige nada dela própria. Mas é, acima de tudo, um projeto social com contornos ideológicos bem definidos. A escola democrática ensina a questionar. A escola de uma sociedade que combate a desigualdade aplica-se nos que têm mais dificuldades. A escola de Crato ensina a decorar sem questionar e tem como principal função selecionar. Não, não é de educação e de ensino que tenho estado a falar. É do país que estamos, aos poucos, a recriar.
Crato e a obsessão pelos exames
Advoga Crato que os exames (ou a falta deles) são o maior problema do nosso sistema educativo, sobretudo (imagine-se!), no ensino básico. Os exames são a garantia da seriedade e qualidade do sistema. Era, aliás, o primeiro objetivo “imediato” e “simples” que propunha para acabar com o “caos” na educação em Portugal, ao arrepio e na ignorância de tudo o que se sabe e se tem estudado sobre avaliação e exames, nos últimos anos.
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